Ao abordar temas como cultura, arte, arquitetura, urbanismo, cinema, tempo e espaço, David Harvey busca uma reflexão acerca da pós-modernidade e seus reflexos na sociedade contemporânea.No capítulo 17, A compressão do tempo-espaço e a condição pós-moderna, o autor parte de um questionamento onde estabelece relações entre a passagem do fordismo para a acumulação flexível e sua interferência nos usos e significados do espaço e do tempo.Harvey aponta a crise do início dos anos setenta como um período de transição de um padrão de acumulação capitalista rígido (o fordismo e suas forças produtivas) aos novos modos de acumulação do capital (a “acumulação flexível”). Explora a ligação com as novas práticas e formas culturais, considerando: a contribuição das novas tecnologias, o surgimento de uma prática de descartabilidade das coisas, o papel do consumo, da moda e a manipulação de opinião e gosto, a partir da construção de novos sistemas de signos e imagens. O autor tece uma rede de ligações entre estas mudanças ocorridas, o modo como tais trocas se deram e a diversificação dos valores de uma sociedade que, para Harvey, se encontra em vias de fragmentação.
O autor inicia seu artigo questionando como os usos e significados do espaço e do tempo mudaram com a transição do fordismo para a acumulação flexível. Sugere que temos vivido nas duas últimas décadas (observação: o texto é de 1989) uma intensa fase de compressão do tempo-espaço, geradora de um grande impacto nas práticas político-econômicas, no equilíbrio do poder de classe e na vida social e cultural. Também observa a volta do interesse pela teoria geopolítica a partir de mais ou menos 1970, o retorno da estética do lugar e uma propensão revigorada (mesmo na teoria social) a abrir o problema da espacialidade a uma reconsideração geral.A transição para a acumulação flexível trouxe novas formas organizacionais e de novas tecnologias produtivas. A aplicação das novas tecnologias contribuiu muito na superação da rigidez do fordismo e na aceleração do tempo de giro, desde a crise aberta em 1973. A aceleração na produção foi alcançada por mudanças organizacionais tais como subcontratação, transferência de sede etc., que reverteram a tendência fordista de integração vertical, produzindo um caminho cada vez mais indireto na produção, mesmo diante da crescente centralização financeira. Outras mudanças como o sistema de entrega "just-in-time", que reduz os estoques, associado a produção em pequenos lotes, diminuiram os tempos de giro em muitos setores da produção (eletrônica, máquinas-ferramenta, automóveis, construção, vestuário etc.).
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Adam Smith e a INVESTIGAÇÃO SOBRE A NATUREZA E AS CAUSAS DAS RIQUEZAS DAS NAÇÕES

Por Pedagogas Unidas 2008
Divisão do trabalho? Como tudo começou, segundo Smith...
A divisão do trabalho segundo Smith pode ter sido a causa do crescente desenvolvimento da produtividade do trabalho bem como do aumento do engenho, destreza e discernimento.
Este livro é iniciado com uma passagem descrevendo a divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes onde dez pessoas especializadas em várias tarefas, produzem 48.000 alfinetes por dia, comparada com uma minoria que produziria uma peça de forma isolada.
Ainda no mesmo livro, já no segundo capítulo, Smith nos revela a origem da divisão do trabalho na sociedade: "Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer...Ela é conseqüência necessária, embora muito lenta e gradual, de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana...a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra."
Desta maneira, poder permutar com certeza a parte excedente da produção pessoal (ultrapassando seu consumo pessoal) incentiva cada trabalhador a se ocupar especificamente aperfeiçoando seu talento ou “dom” para aquele negócio. A competição e a lei da oferta e procura sustentam a divisão do trabalho.
Marx neste capítulo também copiou justamente aquilo que sempre foi imputado a ele, Marx, como o ponto mais nobre do marxismo, a alienação do trabalhador. É de Smith uma extensa digressão sobre esse problema. Ele escreveu com discernimento e originalidade sobre a degradação intelectual do trabalhador numa sociedade na qual a divisão de trabalho foi muito longe. Em comparação com a inteligência alerta do agricultor, o trabalhador especializado "geralmente se torna tão estúpido e ignorante quanto é possível para um ser humano se tornar".
A melhor educação. No Artigo II do Volume II do "Riqueza" diz Smith que também as instituições para a educação podem propiciar um rendimento suficiente para cobrir seus próprios gastos. Ele não se ocupa de se é dever do Estado propiciar educação gratuita aos cidadãos. Ele apenas garante que, se esse for o caso, infalivelmente será a pior educação possível. Ele coteja o ensino particular com o público, este último exemplificado com o péssimo ensino que viu em Oxford, universidade onde os professores tinham seu salário garantido, mesmo que sequer dessem aulas. Quando o professor não é remunerado às custas do que pagam os alunos, "o interesse dele é frontalmente oposto a seu dever, tanto quanto isto é possível"... "é negligenciar totalmente seu dever ou, se estiver sujeito a alguma autoridade que não lhe permite isto, desempenhá-lo de uma forma tão descuidada e desleixada quanto essa autoridade permitir". Nesta situação, mesmo um professor consciencioso do seu dever, irá, segundo Smith, acomodar seu projeto de ensino e pesquisa a suas conveniências, e não de acordo com parâmetros reais de interesse de seus alunos.
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO
AUTOR: VLADIMIR DE PAULA BRITO
A desigualdade do valor da informação para ricos e pobres dá origem a uma instabilidade infortunada. Com os ganhos de produtividade possíveis, graças à informação e aos instrumentos informáticos disponíveis, as nações e pessoas ricas do mundo aumentarão seus bens e serviços econômicos, ficando, portanto, mais ricas.
Conforme enriquecem, passam a usar o mercado de informação de modo ainda mais amplo, desfrutando de um crescimento econômico exponencial. Os países e as pessoas pobres, por sua vez, não conseguem dar inicio ao processo de crescimento. Sua tendência é subutilizar os recursos de informação, pois não estão ao seu alcance.
Assim, não conseguem iniciar a curva de crescimento. Permanecerão na mesma situação, o que significa, em termos relativos, ficar cada vez mais para traz, em relação aos ricos.
A conclusão dolorosa é que, deixado por sua própria conta, o Mercado de informação aumentara a brecha entre países ricos e pobres, e entre pessoa ricas e pobres. (DERTOUZOS, 1997, P.303).
INTRODUÇÃO
A economia capitalista tem sofrido uma serie de transformações nas ultimas décadas. Com a queda do muro de Berlim e a proliferação de novas tecnologias relativas à produção e , sobretudo, disseminação de informação, o capital rompeu os últimos bastões de resistência ao seu fluxo.
Estas modificações, batizadas pela construção de uma emergente “Sociedade da informação”, tem pautado, e certamente o farão cada vez mais uma série de profundas mudanças socioeconômicas envolvendo quase todo o globo. Como todo processo dessa natureza, as sociedades que não construírem respostas coletivas para essas amplas gamas de transformações correm o risco de se verem à margem das principais relações econômicas mundiais.
Observam-se somas astrômicas de capitais, utilizando-se de redes interconectadas, fluindo através do globo em uma busca constante de mercados mais rentáveis e especulativos. Vê-se o uso da Internet para ampliação do comercio entre nações, para cirurgias à distância, para facilitar o trabalho em grupo com os decorrentes ganhos de produtividade deste. Para algumas pessoas, as agências bancárias, as lojas de conveniência, as farmácias, os cursos de línguas e até mesmo o trabalho são virtuais há muito tempo, com as vantagens de tempo, dinheiro e oportunidades que se ganha com isso. Este é o mundo perfeito da globalização e do neoliberalismo, em que a tecnologia pode servi ao homem.
Como podemos constatar, a dinâmica da dita sociedade global baseia-se na concentração de rendas e oportunidades, e, caso não construam instrumentos para modificar a dinâmica atual, a exclusão, infelizmente, só tende a aumentar.
A Escola Pública, em paises como o Brasil, pode cumprir mais um papel fundamental. Como os novos paradigmas econômicos e sociais são edificados pela via de informação e do conhecimento, a Escola, como um ambiente cujo trabalho envolve centralmente estes, tornou-se um instrumento central para o ingresso do cidadão no mercado de trabalho formal.
Com a amplitude das questões postas, a Escola se configura como um importante instrumento de inclusão social, no sentido da formação e instrumentalizaçao para uma sociedade que exige o desenvolvimento de capacidades para um mercado de trabalho “informacional”, mas, sobretudo, como fomentadora de contradição e espaço de formação da criticidade, tão fundamentais às transformações sociais. Mediante o uso da Internet, o cidadão comum pode obter uma serie de informações, que vão do seu saldo bancário, passando por oportunidades de emprego e como tem votado o seu deputado, até o que tem feito a Administração da Prefeitura. Caso a Escola consiga disponibilizar os recursos tecnológicos disponíveis, subordinando estes à construção de cidadania, poderemos, num futuro próximo, ter a capacidade de incluir, numa sociedade que por habito exclui, ao mesmo tempo em que poderemos questionar os porquês da estratificação, em vez de nos comportarmos como se as regras do jogo fossem imutáveis e inquestionáveis.
CAPITAL FINANCEIRO E ESPECULATIVO
O surgimento do capital financeiro parte da seguinte lógica econômica: a produção gera lucros ao capitalista; enquanto uma parte do lucro geralmente é reinvestida na produção, uma outra é realizada, ou seja, o capitalista a toma para si e para seu bem-estar. Com o tempo, o dinheiro que o capitalista não reinvestia passou a ser utilizado em empréstimos para outros capitalistas que precisavam de capital para alavancar um dado negocio, como uma nova fabrica. Á medida que o tempo passava, alguns capitalistas chegaram a conclusão de que era bem mais lucrativo viver emprestando o capital por aí e fazendo-o crescer constantemente com empréstimos do que se arriscar a produzir alguma coisa, surgem os financistas, e surge o capital que é gerado pelo próprio capital, sem vinculo direto com o sistema produtivo.
Á medida que as economias foram fazendo uso intensivo do capital disponível, passou a ser comum a especulação financeira, em que a simples transferência de capitais de um lugar para o outro significa a total falência econômica ou a conquista de novos mercados.
GLOBALIZAÇÃO, TRABALHO E EDUCAÇÃO
Com o capitalismo informacional, ter acesso à Escola e à informação, mais do que acesso à cultura ou a possibilidade de ascensão social, significa ter acesso ao mercado de trabalho. Nesse sentido, o capital, reserva à Escola, mais uma vez, o papel de formadora de mão-de-obra.
Se por um lado é inegável que as melhores oportunidades profissionais, estão vinculadas à capacidade do uso da informação, por outro, a Escola não deve assumir somente o papel de capacitadora para o trabalho. A Escola pode e deve cumprir um papel muito mais importante para a sociedade, em particular para os segmentos oprimidos, que é o de elo de continuidade cultural, de transmissora e construtora de cultura.
Antes de tudo, o grande desafio colocado para Escola Pública é a subordinação das ferramentas informacionais ao projeto político-pedagogico que se constrói dentro das mesmas. De pouco adiantam ferramentas de informação disponíveis sem um projeto de como utilizá-las, e, por mais que desejamos a simples possibilidade de comprar um produto que resolva todos os nossos problemas, a sua resolução relaciona-se à construção de uma política. É a partir do projeto político-pedagógico que podemos tecer os fundamentos de para quê e como aplicar a tecnologia.
Á medida que a Escola elucide as suas perspectivas político-pedagogico aí sim, a tecnologia pode e deve cumprir um grande papel.
domingo, 7 de dezembro de 2008

Gandhi se casou menino. Foi casado menino. O contrato, foram os grandes que assinaram. Os dois nem sabiam direito o que estava acontecendo, ainda não haviam completado 10 anos de idade, estavam interessados em brincar. Ninguém era culpado: todo mundo estava sendo levado de roldão pelas engrenagens dessa máquina chamada sociedade, que tudo ignora sobre a felicidade e vai moendo as pessoas nos seus dentes. Os dois passaram o resto da vida se arrastando, pesos enormes, cada um fazendo a infelicidade do outro.
Vocês dirão que felizmente esse costume nunca existiu entre nós: obrigar crianças que nada sabem a entrar por caminhos nos quais terão de andar pelo resto da vida é coisa muito cruel e… burra! Além disso já existe entre nós remédio para casamento que não dá certo.
Antigamente, quando se queria dizer que uma decisão não era grave e podia ser desfeita, dizia-se: “isso não é casamento!”. Naquele tempo, sim, casamento era decisão irremediável, para sempre, até que a morte os separasse, eterna comunhão de bens e comunhão de males. Mas agora os casamentos fazem-se e desfazem-se até mesmo contra a vontade do Papa, e os dois ficam livres para começar tudo de novo…
Pois dentro de poucos dias vai acontecer com nossos adolescentes coisa igual ou pior do que aconteceu com o Gandhi e a mulher dele, e ninguém se horroriza, ninguém grita, os pais até ajudam, concordam, empurram, fazem pressão, o filho não quer tomar a decisão, refuga, está com medo. “Tomar uma decisão para o resto da minha vida, meu pai! Não posso agora!” e o pai e a mãe perdem o sono, pensando que há algo errado com o menino ou a menina, e invocam o auxílio de psicólogos para ajudar…
Está chegando para muitos o momento terrível do vestibular, quando vão ser obrigados por uma máquina, do mesmo jeito como o foram Gandhi e Casturbai (era esse o nome da menina), a escrever num espaço em branco o nome da profissão que vão ter.
Do mesmo jeito não: a situação é muito mais grave. Porque casar e descasar são coisas que se resolvem rápido. Às vezes, antes de se descasar de uma ou de um, a pessoa já está com uma outra ou um outro. Mas, com a profissão não tem jeito de fazer assim. Pra casar, basta amar.
Mas na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra crescer.
A dor que os adolescentes enfrentam agora é que, na verdade, eles não têm condições de saber o que é que eles amam. Mas a máquina os obriga a tomar uma decisão para o resto da vida, mesmo sem saber.
Saber que a gente gosta disso e gosta daquilo é fácil. O difícil é saber qual, dentre todas, é aquela de que a gente gosta supremamente. Pois, por causa dela, todas as outras terão de ser abandonadas. A isso que se dá o nome de “vocação”; que vem do latim, vocare, que quer dizer “chamar”. É um chamado, que vem de dentro da gente, o sentimento de que existe alguma coisa bela, bonita e verdadeira à qual a gente deseja entregar a vida.
Entregar-se a uma profissão é igual a entrar para uma ordem religiosa. Os religiosos, por amor a Deus, fazem votos de castidade, pobreza e obediência. Pois, no momento em que você escrever a palavra fatídica no espaço em branco, você estará fazendo também os seus votos de dedicação total á sua ordem. Cada profissão é uma ordem religiosa, com seus papas, bispos, catecismos, pecados e inquisições.
Se você disser que a decisão não é tão séria assim , que o que está em jogo é só o aprendizado de um ofício para se ganhar a vida e, possivelmente, ficar rico, eu posso até dizer: “Tudo bem! Só que fico com dó de você! Pois não existe coisa mais chata que trabalhar só para ganhar dinheiro.”
É o mesmo que dizer que, no casamento, amar não importa. Que o que importa é se o marido — ou a mulher — é rico. Imagine-se agora, nessa situação: você é casado ou casada, não gosta do marido ou da mulher, mas é obrigado a, diariamente, fazer carinho, agradar e fazer amor. Pode existir coisa mais terrível que isso? Pois é a isso que está obrigada uma pessoa, casada com uma profissão sem gostar dela. A situação é mais terrível que no casamento, pois no casamento sempre existe o recurso de umas infidelidades marginais. Mas o profissional, pobrezinho, gozará do seu direito de infidelidade com que outra profissão?
Não fique muito feliz se o seu filho já tem idéias claras sobre o assunto. Isso não é sinal de superioridade. Significa, apenas, que na mesa dele há um prato só. Se ele só tem nabos cozidos para comer, é claro que a decisão já está feita: comerá nabos cozidos e engordará com eles. A dor e a indecisão vêm quando há muitos pratos sobre a mesa e só se pode escolher um.
Um conselho aos pais e aos adolescentes: não levem muito a sério esse ato de colocar a profissão naquele lugar terrível. Aceitem que é muito cedo para uma decisão tão grave. Considerem que é possível que vocês, daqui a um ou dois anos, mudem de idéia. Eu mudei de idéia várias vezes, o que me fez muito bem. Se for necessário, comecem de novo. Não há pressa. Que diferença faz receber o diploma um ano antes ou um ano depois?
Em tudo isso o que causa a maior ansiedade não é nada sério: é aquela sensação boba que domina pais e filhos de que a vida é uma corrida e que é preciso sair correndo na frente para ganhar. Dá uma aflição danada ver os outros começando a corrida, enquanto a gente fica para trás.
Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada. Lembrem-se daquele maravilhoso aforismo de T. S. Eliot: “Num país de fugitivos os que andam na direção contrária parecem estar fugindo.”
Assim, Raquel, não se aflija. A vida é uma ciranda com muitos começos.
Coloque lá a profissão que você julgar a mais de acordo com o seu coração, sabendo que nada é definitivo. Nem o casamento. Nem a profissão. E nem a própria vida…
O escritor responde a uma estudante angustiada e dá aos pais motivos para meditarem sobre a escolha da profissão.
O texto acima foi extraído do livro “Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares”, editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 31.
Rubem Alves: tudo sobre o autor e sua obra em “Biografias“.
Fordismo / Pós - Fordismo...CRISE?!?

O capitalismo atual traz grandes transformações para o mundo. A globalização econômica trouxe uma nova realidade para os países: a idéia de Estado-Nação perde a força para a junção econômico-social.
As inovações tecnológicas juntamente com os mercados financeiros são bases da globalização, considerando o mundo como um único bloco.
Vivemos hoje a chamada maior crise econômica de todos os tempos. É possível revertê-la? Para onde vamos? Como a história nos ajudaria?
O FORDISMO – O que foi?
O regime fordista teve início nos EUA e no pós-guerra alastrando-se pelo mundo. Aliando os princípios tayloristas (divisão do trabalho manual e intelectual), Harvey define da seguinte maneira o Fordismo: "O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distingue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que a produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução do trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista".
Na fábrica automobilística de Henry Ford em Michigan em 1914, é estabelecido o dia de trabalho em 8 horas e a recompensa de cinco dólares para os trabalhadores de sua linha de montagem automática.Ford propunha que a sociedade fosse baseada no consumo de massa e para isso, deveriam haver condições propiciadoras.
Esta linha de montagem automática viria a facilitar o aumento da produção, do lazer e do consumo. Ele acreditava em um poder corporativo que regulamentaria a economia geral. Com essas características o fordismo criou uma rápida elevação do investimento e do consumo por pessoa.
A incoerência neste sistema ( no capitalistmo) é sem dúvida sua característica fundamental. As crises em ciclos são inerentes ao sistema ( justificando a crise atual 2008/2009). Produzir muito sem demanda efetiva é um dos maiores problemas, e esta “depressão” só foi vista por Ford com clareza após ela ter ocorrido.
O primeiro obstáculo notado por Harvey no período entre-guerras quanto à propagação fordista foi:: "(...) o estado de relações e classe no mundo capitalista, dificilmente era propício à fácil aceitação de um sistema de um sistema de produção que se apoiava tanto na familiarização do trabalho puramente rotinizado, exigindo pouco das habilidades manuais tradicionais e concedendo um controle quase inexistente ao trabalhador sobre o projeto, o ritmo e a organização do processo produtivo".
O segundo obstáculo seria: "(...) [eram] os modos e mecanismos de intervenção estatal. Foi necessário conceber um novo modo de regulamentação para atender aos requisitos de produção fordista; e foi preciso o choque da depressão selvagem e do quase-colapso do capitalismo na década de 30 para que as sociedades capitalistas chegassem a alguma nova concepção da forma e do uso dos poderes do estado".
A solução para estes problemas veio apenas no pós-guerra. Foi feita uma parceria entre os controles estatais dando uma estabilidade ao sistema capitalista, solucionando a falta de demanda.
As características mais importantes no sistema fordista foram: a estabilidade nas relações de trabalho(convenções coletivas, o Welfare State, a legislação), as relações entre bancos e pequenas empresas (terceirização), o controle da moeda pelo Banco central e a participação importante do Estado na economia.
Visando a acumulação, o fordismo privilegiou principalmente a escala nacional voltando sua produção para o mercado interno, pois a padronização dos produtos e as técnicas repetitivas da linha de montagem baratearam os custos.
Como o Fordismo entrou em crise?
O sistema teve sua crise iniciada no final dos anos 60 onde a produtividade, perdeu a sua força. O poder de compra dos trabalhadores crescia num ritmo maior e, conseqüentemente, as taxas de lucros diminuíam. Enquanto isso o Japão e a Europa Ocidental tinham se recuperado do pós-guerra e a sua produção gerava excedentes, incitando as exportações.
A competição internacional aumentava com a inclusão Latino Americana e Sul Asiática causando a queda do dólar e aumentando o problema fiscal norte- americano. A solução encontrada ( como vivemos atualmente ) foi a demissão de trabalhadores. A crise petrolífera colaborou ainda mais para o declínio do sistema fordista originando a crise do Welfare State..
O fordismo no período de 1965 a 1973 não conseguiu resolver esses problemas. Harvey afirma que: "A profunda recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, evidentemente retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da estagflação (estagnação da produção de bens e alta de inflação de preços) e pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em conseqüência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político. no espaço social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios da organização industrial e da vida social e política começou a tomar forma. essas experiências podem representar os primeiros ímpetos da paisagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e social bem distinta".
Com essas contradições dá-se início à passagem do fordismo para o pós-fordismo.
O que foi o Pós- Fordismo?
A crise do sistema fordista gerou uma linha de experiências buscando revitalizar o sistema capitalista. O que define o pós-fordismo (acumulação flexível) é a oposição aos princípios fordistas.
O processo produtivo flexibilizou-se “desmanchando” tudo o que existia até então. O que se observou na realidade foi uma revolução tecnológica que tinha o interesse de mudar o quadro da crise . Harvey diz que:"A acumulação flexível (...) é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, novos mercados de trabalho, dos produtos e padrões. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas ( tais como, a Terceira Itália, Flandes, vários vales e gargantas de silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém-industrializados )".
A característica mais marcante desta revolução tecnológica foi a chegada assustadora do microprocessador e das interfaces eletrônica tanto em novos produtos como no próprio processo de trabalho: a microeletrônica redefine um novo significado para a automação.Reduzindo as margens de lucro procurou-se “flexibilizar” as relações de trabalho, recompondo o modelo lucrativo. O antigo contrato de trabalho (regular) foi substituído por trabalhos temporários, parciais e até mesmo subcontratados.
O fordismo no período de 1965 a 1973 não conseguiu resolver esses problemas. Harvey afirma que: "A profunda recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, evidentemente retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da estagflação (estagnação da produção de bens e alta de inflação de preços) e pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em conseqüência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político. no espaço social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios da organização industrial e da vida social e política começou a tomar forma. essas experiências podem representar os primeiros ímpetos da paisagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e social bem distinta".
Com essas contradições dá-se início à passagem do fordismo para o pós-fordismo.
O que foi o Pós- Fordismo?
A crise do sistema fordista gerou uma linha de experiências buscando revitalizar o sistema capitalista. O que define o pós-fordismo (acumulação flexível) é a oposição aos princípios fordistas.
O processo produtivo flexibilizou-se “desmanchando” tudo o que existia até então. O que se observou na realidade foi uma revolução tecnológica que tinha o interesse de mudar o quadro da crise . Harvey diz que:"A acumulação flexível (...) é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, novos mercados de trabalho, dos produtos e padrões. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas ( tais como, a Terceira Itália, Flandes, vários vales e gargantas de silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém-industrializados )".
A característica mais marcante desta revolução tecnológica foi a chegada assustadora do microprocessador e das interfaces eletrônica tanto em novos produtos como no próprio processo de trabalho: a microeletrônica redefine um novo significado para a automação.Reduzindo as margens de lucro procurou-se “flexibilizar” as relações de trabalho, recompondo o modelo lucrativo. O antigo contrato de trabalho (regular) foi substituído por trabalhos temporários, parciais e até mesmo subcontratados.
Essas relações receberam denominações específicas sendo a primeira, a via Neotaylorista onde aprofundam-se os princípios tayloristas e a automação, diminuindo as regalias fordistas para os trabalhadores. EUA, Grã-Bretanha e França são os países que se adaptaram a esta via.
Na segunda via ficaram o Japão, Alemanha e Itália (Norte), com a Kalkariana visando a evolução tecnológica e a segurança de emprego, bons salários, etc.).
Na via Californiana visava-seo engajamento individual incentivado pela diferenciação salarial, além da receio de “perda” de emprego. As mudanças tecnológicas também foram responsáveis pela reorganização do espaço dentro da indústria onde o principal modelo é o Just In Time, possibilitando através da informática o trabalho com estoques mínimos.
Na segunda via ficaram o Japão, Alemanha e Itália (Norte), com a Kalkariana visando a evolução tecnológica e a segurança de emprego, bons salários, etc.).
Na via Californiana visava-seo engajamento individual incentivado pela diferenciação salarial, além da receio de “perda” de emprego. As mudanças tecnológicas também foram responsáveis pela reorganização do espaço dentro da indústria onde o principal modelo é o Just In Time, possibilitando através da informática o trabalho com estoques mínimos.
A localização de novos centros de indústrias ocorre também por causa do mercado de trabalho,(tanto na fartura de mão-de-obra como na debilidade da organização sindical). As periferias dos países com as características acima foram procuradas com maior frequência.

Inauguração do Centro de Recondicionamento de Computadores de BH
04/12/2008
por
Em funcionamento desde abril deste ano, o CRC de BH será inaugurado dia 4 de dezembro de 2008.
O Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC) de Belo Horizonte será inaugurado nesta quinta-feira (4/12) pelo secretário adjunto de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI), do Ministério do Planejamento, Rodrigo Assumpção. A solenidade de inauguração ocorrerá às 14h, na Rua José Clemente Pereira, n° 440, Bairro Ipiranga, em Belo Horizonte.Em funcionamento desde abril deste ano, o CRC de Belo Horizonte já recuperou 1.295 computadores dos 5.373 doados ao projeto por empresas privadas e órgãos públicos. O objetivo dos CRCs é ensinar aos jovens a consertar, testar, limpar, configurar e embalar microcomputadores. As máquinas recuperadas foram entregues a 26 projetos de inclusão digital selecionados pela coordenação nacional do Projeto CI.O Centro de Recondicionamento está instalado no Bairro Ipiranga, em um prédio de 897 metros quadrados. Nesse local funcionava até então a Oficina de Reciclagem Digital, um projeto da Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com a Associação Municipal de Assistência Social (Amas).Para a implantação do CRC, o Ministério do Planejamento repassou R$ 460 mil à Prodabel, órgão da Prefeitura de Belo Horizonte, que é parceira do Governo Federal nesse projeto e é responsável pela manutenção e funcionamento do Centro.Segundo o secretário adjunto da SLTI, Rodrigo Assumpção, a instalação de um Centro de Recondicionamento na cidade representa mais um passo na consolidação da rede do projeto Computadores para Inclusão."Era muito importante termos um CRC em Belo Horizonte que conta com uma concentração de equipamentos bastante elevada e a parceria com a Prodabel, que já desenvolvia ações semelhantes, possibilitou uma integração muito rápida ao projeto", salientou Assumpção.O CRC integra o Projeto Computadores para Inclusão (Projeto CI) coordenado pelo SLTI, que estabelece parcerias locais para a implantação e manutenção das unidades de recondicionamento em periferias de cidades de grande porte. Outros centros estão em funcionamento em Porto Alegre, Guarulhos e na cidade-satélite do Gama (DF).O Projeto Computadores para Inclusão consiste numa rede nacional de reaproveitamento de equipamentos de informática, formação profissional e inclusão digital. Equipamentos descartados por órgãos do governo, empresas e pessoas físicas são recuperados nesses centros e doados a telecentros, escolas e bibliotecas de todo o país.InauguraçãoDa solenidade de inauguração participam, além do secretário adjunto Rodrigo Assumpção, o vice-prefeito de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcelos, o secretário municipal de Políticas Sociais, Jorge Nahas, o presidente da Prodabel, Pedro Diniz, o secretário municipal de Educação, Hugo Uortuca, a presidente da Amas, Rosalva Portela, e a diretora de Inclusão Digital da Prodabel, Silvana Veloso.Também estarão presentes no evento representantes dos demais CRCs já implantados no país, do Ministério da Educação, da Fundação Banco do Brasil, do Serviço Federal de Processamento de Dados, e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social.
Fonte: http://www.governoeletronico.gov.br
sábado, 6 de dezembro de 2008
Será o professorado o único culpado?

Os mecanismos de reprodução da desigualdade no sistema público escolar
15/10/2008
Sérgio Haddad
Um dos principais aspectos que impactam a qualidade do ensino público é o trabalho do professor. Muito se tem falado sobre o tema nos dias de hoje e quase sempre de maneira crítica, imputando ao professor e a professora a razão pelos péssimos resultados obtidos pelos alunos.
De fato, o diagnóstico, à primeira vista, parece ser verdadeiro, explicando parte das causas deste insucesso. Outras causas podem ser identificadas nas dificuldades dos alunos em cumprir com seu trabalho escolar; nas condições de vida da população de um modo geral que impedem que muitas famílias ofereçam condições necessárias para que os filhos freqüentem os bancos escolares com regularidade; e nas condições estruturais oferecidas para ambos, trabalhadores da educação e alunos, para realizarem a escolarização com qualidade.
Falo das condições materiais como locais adequados, com banheiros, laboratórios, bibliotecas, quadras de esportes e condições pedagógicas, materiais didáticos, bibliotecas etc. Há também dois fatores importantes: currículos adequados voltados aos interesses da população brasileira, e um ambiente cultural onde a prática escolar possa ser realizada com a participação das famílias e da comunidade nos sistemas de ensino.
Apesar de aparentemente simples, todos os fatores são complexos nos seus diagnósticos e nas suas soluções. Tomemos o caso da qualidade do trabalho do professor. Há uma unanimidade no diagnóstico de que ele é insuficiente, ruim, de baixa qualidade. Há um consenso midiático de que é ele o grande causador do desastre do ensino público. Mas analisemos com mais calma como é produzido, suas raízes históricas, seus condicionamentos.
Inicialmente há que se ressaltar que há muito trabalho de qualidade realizado pelo professorado nas escolas públicas e que fica invisível para o público em geral. Há também uma grande quantidade de profissionais do ensino, diretores, supervisores, orientadores, merendeiras, vigias, dedicados a fazer o seu trabalho com qualidade e profissionalismo.
Normalmente estes exemplos são deixados de lado e todos são tratados da mesma forma, como se houvesse um complô nacional dos profissionais da educação pela baixa qualidade do ensino.
Quem são os profissionais da educação? de onde eles vêm? Se olharmos a trajetória profissional realizada por eles, vamos verificar que o percurso tem a ver com o caminho oferecido para as classes populares deste país, o caminho da reprodução das desigualdades sociais.
Hoje, 90 % da população brasileira realiza sua escolaridade básica, ensino fundamental e médio, na escola pública; 10% está nas escolas privadas. Os filhos das elites estão nas escolas privadas, as classes populares fazem a escola pública. Se é verdade que nem toda escola privada é de boa qualidade, uma parte significativa delas é, e ali estudam os filhos das classes médias altas e dos ricos. Quando vão para o ensino superior, esta realidade se inverte, são os setores da população com mais recursos econômicos que ocupam as escolas públicas, e os mais pobres, quando chegam lá, estudam nas escolas privadas, aquelas com menor qualidade.
E por que as universidades públicas são melhores, ao contrário do que ocorre com a educação básica pública? Porque lá há um investimento massivo de recursos na formação de quadros e no financiamento de pesquisas que impactam o desenvolvimento sócio econômico e ambiental do nosso país, nem sempre voltado aos interesses da maioria. Ao contrário, nas escolas superiores privadas, tirando algumas raras exceções, a maioria pobre deste país que chega lá é obrigada a pagar pelos seus estudos e quase sempre compra algo ruim.
Poderíamos argumentar que o ensino superior público voltado à formação do professorado poderia dar esta contribuição de qualidade que tanto a rede pública de ensino básico necessitaria. Ocorre que isto é apenas uma parte da verdade. Primeiro porque o número de formandos é menor.
A maioria da oferta do ensino superior, ao contrário da educação básica, é de escolas privadas: há 4,9 milhões de alunos em cursos de formação de professores, apenas 1,2 milhão em instituições públicas Em segundo lugar, não há nenhuma garantia de que os professores formados nas universidades públicas irão trabalhar nas escolas públicas. A grande verdade é que estes são aproveitados nas escolas privadas, que buscam os professores de melhor qualidade e que pagam mais por seus serviços. São os professores formados nas escolas superiores privadas, os mais pobres, aqueles com menor qualificação, que irão assumir as vagas oferecidas pelas redes públicas estaduais e municipais. O circuito de reprodução das desigualdades então se fecha.
Mas há também outra lógica perversa no funcionamento do ensino. Através dos processos de remoção, os professores com maior experiência e tempo no ensino fundamental e médio, premidos pelas condições de trabalho, sem incentivos para assumir os desafios do cotidiano escolar, optam por se remover para as escolas melhor estruturadas, não por acaso, localizadas nos bairros também mais ricos e, conseqüentemente, com alunos em melhores condições de desfrutar das oportunidades de aprendizagem.
Aos mais novos, aos mais despreparados, restam aquelas escolas localizados em bairros pobres, que pouco têm a oferecer a seus moradores e seus filhos. Mais uma vez o sistema funciona como um mecanismo de reprodução das desigualdades.
Outro tema que reflete esta lógica é sobre a disponibilidade dos professores. No ensino médio, há falta de professores em disciplinas como Biologia, Física e Química. Não se formam professores em número necessário, ou os que se formam, vão trabalhar em empresas ou nas escolas privadas, pois pagam muito mais do que os sistemas públicos de ensino.
Mais uma vez, aqueles que têm recursos financeiros, pagam por uma escola de melhor qualidade. O sistema público não vem cumprindo o seu papel de oferecer um ensino de qualidade que possa ser compatível com a qualidade das escolas privadas, onde as elites estudam, de forma a romper com o círculo de reprodução.
A lógica reprodução pode também ser constatada no macro sistema público. Nas regiões mais pobres - a região nordeste, norte e centro-oeste - os alunos estudam em escolas mais precárias, com mais alunos por classe e professores recebendo salários menores do que nas regiões, sul e sudeste, aquelas mais fortes economicamente. Isto também ocorre se compararmos as condições de escolarização entre as redes urbanas, com maiores recursos, e as redes rurais, mais pobres e mais precárias. Portanto, aos mais pobres, as piores condições de ensino.
Esta é a perversidade da reprodução dos mecanismos de desigualdade social que podemos encontrar no sistema de ensino quando analisamos apenas o fator qualidade do trabalho do professor. Isto pode ser feito com outros fatores, como por exemplo, o modelo pedagógico, materiais didáticos, condições de oferta frente condições de renda familiar, participação dos pais, ensino infantil, e outros. No caso da educação, como em muitos outros direitos, a oferta cresceu, mas seus mecanismos de desigualdade permaneceram e se modificaram, como revela a discussão sobre a qualidade do ensino. Antes a exclusão se dava pela ausência da oferta, hoje há oferta de vagas, mas a exclusão se dá pela qualidade dos serviços oferecidos.
Culpabilizar o professorado é a forma mais fácil de esconder mecanismo de reprodução da desigualdade que é estrutural ao modelo de desenvolvimento implantado na sociedade brasileira, onde o crescimento econômico se deu à custa de uma sociedade desigual que se perpetua ao longo da sua história.
Sérgio Haddad é economista, doutor em educação, coordenador geral da Ação Educativa e diretor presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos
15/10/2008
Sérgio Haddad
Um dos principais aspectos que impactam a qualidade do ensino público é o trabalho do professor. Muito se tem falado sobre o tema nos dias de hoje e quase sempre de maneira crítica, imputando ao professor e a professora a razão pelos péssimos resultados obtidos pelos alunos.
De fato, o diagnóstico, à primeira vista, parece ser verdadeiro, explicando parte das causas deste insucesso. Outras causas podem ser identificadas nas dificuldades dos alunos em cumprir com seu trabalho escolar; nas condições de vida da população de um modo geral que impedem que muitas famílias ofereçam condições necessárias para que os filhos freqüentem os bancos escolares com regularidade; e nas condições estruturais oferecidas para ambos, trabalhadores da educação e alunos, para realizarem a escolarização com qualidade.
Falo das condições materiais como locais adequados, com banheiros, laboratórios, bibliotecas, quadras de esportes e condições pedagógicas, materiais didáticos, bibliotecas etc. Há também dois fatores importantes: currículos adequados voltados aos interesses da população brasileira, e um ambiente cultural onde a prática escolar possa ser realizada com a participação das famílias e da comunidade nos sistemas de ensino.
Apesar de aparentemente simples, todos os fatores são complexos nos seus diagnósticos e nas suas soluções. Tomemos o caso da qualidade do trabalho do professor. Há uma unanimidade no diagnóstico de que ele é insuficiente, ruim, de baixa qualidade. Há um consenso midiático de que é ele o grande causador do desastre do ensino público. Mas analisemos com mais calma como é produzido, suas raízes históricas, seus condicionamentos.
Inicialmente há que se ressaltar que há muito trabalho de qualidade realizado pelo professorado nas escolas públicas e que fica invisível para o público em geral. Há também uma grande quantidade de profissionais do ensino, diretores, supervisores, orientadores, merendeiras, vigias, dedicados a fazer o seu trabalho com qualidade e profissionalismo.
Normalmente estes exemplos são deixados de lado e todos são tratados da mesma forma, como se houvesse um complô nacional dos profissionais da educação pela baixa qualidade do ensino.
Quem são os profissionais da educação? de onde eles vêm? Se olharmos a trajetória profissional realizada por eles, vamos verificar que o percurso tem a ver com o caminho oferecido para as classes populares deste país, o caminho da reprodução das desigualdades sociais.
Hoje, 90 % da população brasileira realiza sua escolaridade básica, ensino fundamental e médio, na escola pública; 10% está nas escolas privadas. Os filhos das elites estão nas escolas privadas, as classes populares fazem a escola pública. Se é verdade que nem toda escola privada é de boa qualidade, uma parte significativa delas é, e ali estudam os filhos das classes médias altas e dos ricos. Quando vão para o ensino superior, esta realidade se inverte, são os setores da população com mais recursos econômicos que ocupam as escolas públicas, e os mais pobres, quando chegam lá, estudam nas escolas privadas, aquelas com menor qualidade.
E por que as universidades públicas são melhores, ao contrário do que ocorre com a educação básica pública? Porque lá há um investimento massivo de recursos na formação de quadros e no financiamento de pesquisas que impactam o desenvolvimento sócio econômico e ambiental do nosso país, nem sempre voltado aos interesses da maioria. Ao contrário, nas escolas superiores privadas, tirando algumas raras exceções, a maioria pobre deste país que chega lá é obrigada a pagar pelos seus estudos e quase sempre compra algo ruim.
Poderíamos argumentar que o ensino superior público voltado à formação do professorado poderia dar esta contribuição de qualidade que tanto a rede pública de ensino básico necessitaria. Ocorre que isto é apenas uma parte da verdade. Primeiro porque o número de formandos é menor.
A maioria da oferta do ensino superior, ao contrário da educação básica, é de escolas privadas: há 4,9 milhões de alunos em cursos de formação de professores, apenas 1,2 milhão em instituições públicas Em segundo lugar, não há nenhuma garantia de que os professores formados nas universidades públicas irão trabalhar nas escolas públicas. A grande verdade é que estes são aproveitados nas escolas privadas, que buscam os professores de melhor qualidade e que pagam mais por seus serviços. São os professores formados nas escolas superiores privadas, os mais pobres, aqueles com menor qualificação, que irão assumir as vagas oferecidas pelas redes públicas estaduais e municipais. O circuito de reprodução das desigualdades então se fecha.
Mas há também outra lógica perversa no funcionamento do ensino. Através dos processos de remoção, os professores com maior experiência e tempo no ensino fundamental e médio, premidos pelas condições de trabalho, sem incentivos para assumir os desafios do cotidiano escolar, optam por se remover para as escolas melhor estruturadas, não por acaso, localizadas nos bairros também mais ricos e, conseqüentemente, com alunos em melhores condições de desfrutar das oportunidades de aprendizagem.
Aos mais novos, aos mais despreparados, restam aquelas escolas localizados em bairros pobres, que pouco têm a oferecer a seus moradores e seus filhos. Mais uma vez o sistema funciona como um mecanismo de reprodução das desigualdades.
Outro tema que reflete esta lógica é sobre a disponibilidade dos professores. No ensino médio, há falta de professores em disciplinas como Biologia, Física e Química. Não se formam professores em número necessário, ou os que se formam, vão trabalhar em empresas ou nas escolas privadas, pois pagam muito mais do que os sistemas públicos de ensino.
Mais uma vez, aqueles que têm recursos financeiros, pagam por uma escola de melhor qualidade. O sistema público não vem cumprindo o seu papel de oferecer um ensino de qualidade que possa ser compatível com a qualidade das escolas privadas, onde as elites estudam, de forma a romper com o círculo de reprodução.
A lógica reprodução pode também ser constatada no macro sistema público. Nas regiões mais pobres - a região nordeste, norte e centro-oeste - os alunos estudam em escolas mais precárias, com mais alunos por classe e professores recebendo salários menores do que nas regiões, sul e sudeste, aquelas mais fortes economicamente. Isto também ocorre se compararmos as condições de escolarização entre as redes urbanas, com maiores recursos, e as redes rurais, mais pobres e mais precárias. Portanto, aos mais pobres, as piores condições de ensino.
Esta é a perversidade da reprodução dos mecanismos de desigualdade social que podemos encontrar no sistema de ensino quando analisamos apenas o fator qualidade do trabalho do professor. Isto pode ser feito com outros fatores, como por exemplo, o modelo pedagógico, materiais didáticos, condições de oferta frente condições de renda familiar, participação dos pais, ensino infantil, e outros. No caso da educação, como em muitos outros direitos, a oferta cresceu, mas seus mecanismos de desigualdade permaneceram e se modificaram, como revela a discussão sobre a qualidade do ensino. Antes a exclusão se dava pela ausência da oferta, hoje há oferta de vagas, mas a exclusão se dá pela qualidade dos serviços oferecidos.
Culpabilizar o professorado é a forma mais fácil de esconder mecanismo de reprodução da desigualdade que é estrutural ao modelo de desenvolvimento implantado na sociedade brasileira, onde o crescimento econômico se deu à custa de uma sociedade desigual que se perpetua ao longo da sua história.
Sérgio Haddad é economista, doutor em educação, coordenador geral da Ação Educativa e diretor presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos

“Estamos diante de uma bela demonstração de que a modernização da educação é séria demais para ser tratada somente por técnicos. É um caminho interdisciplinar e a aliança da tecnologia com o humanismo é indispensável para criar uma real transformação. (...) Em síntese, só terá sentido a incorporação de tecnologia na educação como na escola, se forem mantidos os princípios universais que regem a busca do processo de humanização, característico caminho feito pelo homem até então”. (RENATO, Eduardo José. Informática e educação, 1997,05).
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